quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O CONTATO ENTRE O SURDO E O OUVINTE NO AMBIENTE DE TRABALHO




“Qualquer relacionamento entre duas pessoas se torna uma criação quando o contato entre elas tem a fluência e a sensação de transformar recíproco” Joseph Zinker



O contato entre as pessoas é algo pelo qual eu estou sempre interessada, prestando atenção, observando. Um fato bastante relevante que tenho estudado é o contato entre o surdo e o ouvinte no ambiente de trabalho. Como esse encontro é estabelecido e em quais circunstâncias? É uma questão que gostaria de compartilhar.


É comum ouvirmos dos surdos que eles não conseguem se relacionar com os outros funcionários, que são colocados de lado e algumas vezes até descriminados. Fiquei intrigada, problemas de relacionamento existem em todas as relações, mas muito se tem feito para melhorar as relações nas empresas.


E entre o surdo e o ouvinte, o que pode ser feito?


O ouvinte, ao entrar na empresa, vem com expectativas sobre o seu trabalho e os colegas que irá encontrar e que são colocadas em confronto com a entrada do surdo (Goffman, in Viana). Muitos nunca tiveram contato com uma pessoa surda e não sabem que os surdos são tão capazes quanto elas em suas capacidades laborais e pessoais. O que sabem é que ela entrou na empresa por conta das cotas para deficientes.


Acredito que as instituições precisam preparar seus funcionários, apresentando o conceito de pessoas surdas no que se refere a sua diferença linguística e não como portadora de uma deficiência. Ao apresentar a surdez para os colegas, tira-se deles os pré-conceitos existentes, possibilitando que o surdo seja recebido como um sujeito igual permitindo um contato autêntico entre eles.


A comunicação é a melhor forma para a integração. No caso entre o surdo e o ouvinte eles possuem uma língua diferente e é esta barreira que precisa ser quebrada. Se o surdo for bem recebido por seus colegas, de uma maneira igualitária, ele se sentirá mais seguro, mais confiante para o seu novo desafio e capaz de estabelecer uma relação verdadeira e ultrapassar as questões da língua.


O surdo também precisa se prepara para sua entrada na empresa e penso que conhecer o português é muito importante, assim como apresentar a Libras para os ouvintes proporcionará uma maior interação.  


Acho importante destacar, assim como  Marconcin (2013), que se deve tomar cuidado para que não ocorra o assistencialismo, para não difundir a ideia de que “o surdo é incapacitado e que precise de algum tipo de privilégio ou concessão subestimando sua capacidade intelectual, criativa e produtiva”.


A preparação do ouvinte para receber o surdo possibilita uma relação mais harmônica. São dois sujeitos diferentes que estão se conhecendo, percebendo e identificando as diferenças e igualdades do outro para então conviverem como duas pessoas convivem, com suas semelhanças e diferenças.



Referencias:

·         Marconcin, L. et Al. O olhar do surdo: traduzindo as barreiras no ensino superior. Ensaios Pedagógicos. Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET – junho de 2013. ISSN 2175-1773 - http://www.opet.com.br/faculdade/revista-pedagogia/pdf/n5/ARTIGO-PRISCILA.pdf visto em 28/08/2014.

·         Viana, A. S. A inserção dos surdos no Mercado de trabalho: políticas públicas, práticas organizacionais e realidades subjetivas. Trabalho de Mestrado. Universidade do Grande Rio, 2010 - http://www2.unigranrio.br/pos/stricto/mest-adm/pdf/dissertacoes/dissertacao-alvanei-dos-santos-viana.pdf visto em 28/08/2014.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

LINKEDIN NÃO TEM LIBRAS ... MAS O QUE É ISSO?



“Cada palavra escrita e cada gesto encontram-se como irmãos. Por vezes como gêmeos” Emmanoelle Laborit, atriz surda

Libras – Língua Brasileira de Sinais, língua que é utilizada pelos surdos para se comunicarem.

Libras não é uma palavra, um conceito de domínio público, do senso comum, embora para nós da área da surdez, seres apaixonados por ela, seja óbvia. Mas não podemos nos deixar levar por essa paixão sem perceber que a palavra Libras não está amplamente difundida na sociedade.

Divulguei o blog para todos os meus amigos e não foram poucos que me falaram “Legal sua página, já curti, mas ... o que é Libras?”

Nesse mesmo momento, estava atualizando meu currículo no Linkedin (site de relacionamento profissional), toda satisfeita, pois tinha um idioma para colocar (básico, mas em aperfeiçoamento diário) e qual não foi minha surpresa quando procuro por Libras e nada. Tentei Língua e apareceu “Língua DOS Sinais”, quando o correto é Língua DE Sinais. Acho que foi a minha primeira indignação no assunto. Ficou claro que eles não têm a menor ideia do que se trata. E não é porque existe um campo restrito, ao contrário, pois achei crioulo e pidgins baseado no inglês, balúchi entre outros.

Acho que esse é um bom tema para começarmos nossas conversas, sobre o surdo e o mercado de trabalho. Como podemos pensar em inclusão se os profissionais que contratam não sabem que existe uma língua de sinais para se comunicar com os surdos e ainda mais preocupante, que nunca pensaram no surdo como um funcionário e muito menos como um par ou até superior?

Como o surdo será respeitado pela sua língua se as pessoas nem a conhecem, nem sabe da sua existência. Torna-se urgente a necessidade de se disseminar essa verdade. Nas universidades já existe uma matéria, opcional, mas é uma forma de divulgação. Nas escolas, as crianças poderiam tomar conhecimento da sua existência. Muitas amigas hoje sabem o que é por causa da música da Xuxa, na década de 80. A música marcou, mas e se fosse dado pelas professoras, o alcance não seria muito maior?

Saber da existência da Língua de Sinais é um caminho para saberem da existência do surdo como pessoas iguais que pertencem ao mundo.

Ah! Mandei uma mensagem para o Linkedin, explicando inclusive, que são muitas as línguas de sinais, uma para cada país, ou até mais, ASL (Língua Americana de Sinais), LSF (Língua Francesa de Sinais), AUSLAN (Língua de Sinais Australiana) entre outras. Porém recebi uma resposta automática, o que quer dizer que não leram, se alguém souber como chegar até eles envie o contato.

Até o próximo post.

Beijos

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

EU E LIBRAS



“A mudança é contínua e inevitável, atualizarmos-nos e nos (re)apresentarmos constante e deliberadamente é uma escolha” Abel Guedes





Meu caso com Libras é antigo, sempre admirei os surdos conversando, eram crianças, como eu, felizes, por vezes bravos, mas estavam sempre em grupo, sempre se olhando. Quando um não olhava era cutucado pelo outro até ele olhar, não dava para ignorar, não dava para ser ignorado. Acho que sou capaz, até hoje,  de ver algumas expressões em seus rostos. Bons tempos de Aclimação (bairro onde morava)


O tempo passou, saí da Aclimação, me tornei administradora, psicóloga, casei e mudei, e por motivos ainda não desvendáveis, depois de todo esse tempo, resolvi aprender Libras e descobri que é uma língua, que existe uma comunidade surda e uma infinidade de possibilidades de interações entre minha curiosidade, lazer, estudo e trabalho.


Já são 8 meses de paixão e estudo. Ainda tenho um longo caminho pela frente para alcançar a fluência  necessária para  conseguir  chegar até os surdos e conversar com eles daquele jeito solto, leve e verdadeiro que eu admirava tanto. Já estou no caminho.


E nesse andar algumas possibilidades / expectativas estão se configurando. A psicóloga e a administradora começaram a se olhar e pensar juntas em algumas oportunidades de trabalho. Integrar minhas polaridades, isso me agrada. E junto com a língua, percebi que existe um vasto campo de estudo. Resolvi ler sobre o surdo, a surdez, a libras e o mercado de trabalho que estava inserido em vários textos. 


O blog surge com a necessidade de compartilhar as várias ideias, indagações, conhecimentos que vão surgindo a cada linha que vou lendo. As ideias vão surgindo e pipocando dentro de mim, com uma força que não consigo controlá-las. Nunca experimentei colocá-las para fora, até agora. Resolvi escrever, para dar voz a todas essas questões e conhecer o alcance delas. 

São coisas novas que vão juntando com algumas ideias antigas, a cabeça não para de funcionar. Quero abrir um espaço para debates, com diversos olhares, de diversos lugares, do ouvinte, do surdo, do trabalhador, do estudante, dos profissionais e outros. Quero trazer conteúdos relevantes para estimular comentários, reflexões e discussões a respeito do surdo, da surdez e do mercado de trabalho. Todos pensando juntos para que mudanças ocorram no sentido de apoderar o surdo do seu lugar na sociedade.


Duas outras ideias ainda existem dentro de mim, atender os surdos no consultório e fazer um mestrado, mas vou com calma, um passo de cada vez.


Bom trabalho para nós.


Até o próximo post.


Beijos